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Esquizodrama: o drama do devir

JORGE BICHUETTI / MARGARETE AMORIN / MARIA DE FÁTIMA OLIVEIRA


O esquizodrama é um dispositivo da intervenção esquizoanalítica, criado por Gregório F.Baremblitt.

Gregório F. Baremblitt desenvolveu a obra de Deleuze e Guattari, sendo um dos pilares fundamentais da sua presença na América Latina, ``O grande mestre da clínica Deleuzeana'', e se fez autor de inúmeros inventos no interior da esquizoanálise, com destaque para o esquizodrama.
O esquizodrama é uma ferramenta sui generis, já que é, em si mesmo por definição, a montagem de intervenções baseadas numa caixa-de-ferramentas, eclética e heterodoxa, que se delimita na condição de máquina de produção de vida, drama do devir, onde elas se conectam como um, ``bricolleur'' e que no fundo não é no sentido prescritivo dos procedimentos, pois se conforma como um invento que se realiza sempre como uma nova invenção.
Performático, utiliza a potência dos efeitos páticos.
Experencial, norteia-se pelo afetar e se afetar quando o corpo funcionando intensificado e desterritorializado explora o que pode um corpo.

A desterritorialização presente no esquizodrama efetiva uma raspagem do funcionamento repetitivo, molar, do status quo, e abre assim a possibilidade de se bifurcar, e produzir novos sentidos, novas saídas.
Desterritorializa-se e deste modo nota-se os seguintes efeitos ( efeitos – como concebido pela análise institucional, vide Compêndio ) :
- afrouxa a rigidez corporal e psíquica da identidade egóica;
- fluidifica o quadriculado das normas institucionais e sociais;
- enfraquece a força das pressões internalizadas pelos papéis sociais
- amplia e amplifica a percepções, descentralizando-a da chamada lucidez racional;
- desenraiza pessoa ou coletivos de seus lugares cristalizados;
- forja um espaço liso; e, libera emergência de um funcionamento da realidade, liberado do corpo cheio, isto é, produz Corpo Sem Orgãos.
No sentido, das reflexões anteriores, o esquizodrama já foi definido por seu inventor como uma psicose laboratorial.
Psicose, alusão à um funcionamento esquizo, e não esquizofrênico.
De fato, os estados criativos se dão num funcionamento com predomínio do pólo esquizo, e as reproduções e antiproduções do instituido pelo predomínio do polo paranóico.
Tem-se no esquizodrama intensas e profundas desterritorializações com a segurança das experimentações de laboratório, pois: no esquizodrama, a desterritorialização é a do nômade no deserto, com reterritorializações concomitantes, imediatas ou imanentes (Deleuze, G. e Guattari F. , ). 
Cabe salientar ainda a potência do e do entre.
O esquizodrama maquina a potência criativa no entre e supera a interpretação que reduz o real ao uno ou ao múltiplo e desbrava novos horizontes, novos sentidos, novas saídas na multiplicidade.
A realidade da interpretação é redução, estrutura, núcleo e a multiplicidade revela nos rizomas trajetos não-explorados, conexões desconhecidas e nelas a possibilidade de se desfocar, descentralizar-se, bifucar-se e multiplicar na vida e de vida, pela vida.
Raspa-se as repetições...
Gesta-se devires... No entre da multiplicidade dos encontros.

Esquizodrama- bons encontros/paixões alegres.
Encontros que compõem, no entre e por isso, máquina coletiva de alto grau de transversalidade.
Assim, nele se privilegia o experencial, o performático, os efeitos páticos. O brincar e a arte. As ressonâncias, o afetar e se afetar, as bifurcações. A produção de novos sentidos. A intensificação...
Caça-se linhas de fuga.
Gesta-se devires... Acontecimentos...
E neste sentido, o esquizodrama se inventa como intensificação da potência caosmótica, da realteridade imanente à realidade, do molecular que no cotidiano se vê muitas vezes inibido, amortecido e/ou subsumido pelo molar.
Esquizodrama - drama do devir.
E instituindo-se agenciamento de devires - Klínica, cuidado- mudança cuidado- invenção, e cuidado produção de vida, do novo radical.
Klínicas - trocas solidárias, máquina de guerra. Transversal.
E não clínica - ortopedia, fúnebre, dominação do agente e submissão passiva de quem demanda cuidado.
As características da nova clínica, que em outro momento identificamos na prática antimanicomial (Bichuetti, J. 2004) podem ser alencadas para se pensar o esquizodrama: funciona como klínica caosmótica, militante, menor, do devir e da invenção.
E, também, nômade.
Sem dúvida, um espaço criativo (Pavlovsky), que consubstancia no brincar, na arte e do próprio caráter desruptivo do delírio mediações, singularizantes e multiplicitárias.
Propicia, então, intensivos processos de subjetivação. Livres, libertários.
O esquizodrama inspira-se na potência do imaginar e dramatizar que para Deleuze não é defesa, nem reprodução imitativa, não é um fazer como, mas um experenciar inventivo.
Para assinalar seus usos poderiamos dizer que possível aplicá-lo em qualquer ação que se tenha como demanda a produção de vida, pessoal e coletiva, no emaranhado dos atravessamentos e agenciamentos que a condiciona processo coletivo de produção e transformação de realidades.
Tem-se sido usado com riqueza na clínica, na supervisão de equipes, na educação, na intervenção institucional, na formação de agentes de uma dada disciplina, no movimento social, e, também, na pesquisa.
OBS. ESTE TEXTO É PARTE DO TRABALHO " ESQUIZOANÁLISE E PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO", numa próxima postagem abordar-se-á o uso na pesquisa.


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